Musica

quarta-feira, 25 de janeiro de 2006

Niver de Sampa

SAMPA
(Caetano Veloso)

Alguma coisa acontece no meu coração,
Que só quando cruzo a Ipiranga e a Avenida São João
É que quando eu cheguei por aqui, eu nada entendi
Da dura poesia concreta de tuas esquinas
Da deselegância discreta de tuas meninas
Ainda não havia para mim Rita Lee
A tua mais completa tradução
Alguma coisa contece no meu coração
Que só quando cruzo a Ipiranga e a Avenida São João
Quando eu te encarei frente a frente não vi o meu rosto
Chamei de mau gosto o que vi de mau gosto, mau gosto
É que Narciso acha feio o que não é espelho
E a mente apavora o que ainda não é mesmo velho
Nada do que não era antes quando não somos mutantes
E foste um difícil começo
Afasto o que não conheço
E que vem de outro sonho feliz de cidade
Aprende depressa a chamar-te de realidade
Porque és o avesso do avesso, do avesso do avesso
Do povo oprimido nas filas, nas vilas, favelas,
Da força da grana que ergue e destrói coisas belas
Da feia fumaça que sobe apagando as estrelas
Eu vejo surgir teus poetas de campos e espaços.
Tuas oficinas de florestas, teus deuses da chuva
Pan-américas de Áfricas utópicas, túmulo do samba
Mas possível novo quilombo de Zumbi
E os novos Baianos passeiam na tua garoa
E novos Baianos te podem curtir numa boa.

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